27 de jan. de 2014

SELEÇÃO GENÉTICA



Muita gente fica preocupada quando se fala em aprimoramento genético em pássaros canoros brasileiros, e com razão. É preciso uma explanação minuciosa sobre o que estamos querendo dizer quando falamos nisso. É o que vamos explicar agora, inclusive, para que fique muito bem claro qual a nossa posição a respeito desse controverso assunto, sobretudo porque se trata do “uso” de um recurso natural de origem silvestre.
Vamos falar, primeiramente, na avicultura industrial, para abate ou para consumo humano. Ali, a necessidade da aplicação da engenharia genética é muito grande. É questão de sobrevivência. A carne de aves deve ser configurada como a mais barata possível, de excelente sabor, nutritiva e de baixa caloria. Os ovos também representam importante subproduto nesse mercado. Nosso país tem se aproveitado das condições ambientais aqui existentes para conseguir produzir essas aves com um custo baixo. Estamos cada vez mais empregando tecnologia de ponta para conseguir espécimes a preço competitivos oferecendo-os no mercado internacional.
As empresas que se lançam neste negócio precisam, todavia, desenvolver métodos eficientes de controle de custos, porque senão não o fizerem logo terão que abandonar o empreendimento. No final, a economia conseguida se origina no aperfeiçoamento e no controle genético do plantel. Esse é o objetivo delas. É impressionante o que se tem conseguido em termos de redução de tempo de vida para o respectivo consumo humano, eram 60, agora são só 43 dias. E as galinhas que botam ovo de duas gemas, é incrível. São indivíduos especiais, segredos industriais guardados a sete chaves, como no caso do “chester”, por exemplo. Um frango geneticamente modificado, com muita carne no peito e nas cochas.
Necessário falar, também, das aves ornamentais e exóticas para outros fins; Ninguém pode desconhecer, obviamente, a importância da questão para a avicultura doméstica e a geração de riquezas na produção de animais de estimação. Os criadores submetem seus plantéis a complicados métodos de seleção e aprimoramento genético, uma verdadeira ciência. O produto disso são aves que cada vez mais atendem aos interesses dos eventuais aficionados.
Especificamente quanto às mutações nas penas, ou seja, penas diferentes tendendo a cor branca, bicos e pés rosados e assim por diante. Nada mais é do que a fixação de um fenômeno natural o “albinismo” na medida em que se utiliza um espécime com essa característica diferenciada, na criação. Nos mutantes, a rigor, não há cruzamento entre espécies diferentes. Ocorre na natureza – um erro no código genético - e registrado em todos os tipos de animais, com maior predominância nas aves.
Então, a partir de um só exemplar com essas características, é possível dentro de pouquíssimo tempo obter-se um grande número de filhotes, porque essa propriedade é genética e recessiva. O certo e que, não há nesse tipo de criação nenhum tipo de necessidade de hibridismo ou alterações na forma dos indivíduos, o que pode inclusive ser comprovado com exame de DNA, se necessário. Em bicudos e curiós pouca gente está praticando esses cruzamentos, inclusive porque os objetivos são outros, o canto de forma enfática. Já no canário-da-terra, azulão, cardeal, em especial, muitos criadores estão
tentando fixar as mais lindas mutações. A procura é grande e a facilidade na criação desse tipo de pássaro, também ajuda.
A ornitofilia sempre busca novidades em termos de cores, formas e cantos clássicos e que estejam à disposição dos interessados. É a busca do perfeito, do diferente e do que se adapta melhor ao gosto de cada um e assim por diante. São novas descobertas e novos cruzamentos sempre perseguindo o melhor. Esse lado do processo de reprodução é a grande mola propulsora que incentiva os criadores a se esmerarem no desenvolvimento de suas atividades para atender o mercado.
Quem não cuidar da qualidade genética de seu plantel estará exercendo um trabalho de pouca relevância para a criação. Na criação de exóticos, quando se quer realizar algo importante e lucrativo, a condução tem que ser a mais profissional possível, não há lugar para amadorismo. O emprego de cruzamento entre espécies e subespécies é muito utilizado, são intrincadas fórmulas que só muita prática, dedicação e organização para executá-las.
Já uma pequena parte de criadores de nativos excuta os cruzamentos entre subespécies e muito menos ainda entre espécies diferentes. Tem-se que ter muito cuidado para não produzir “fenômenos teratológicos”. Todavia, como pesquisa, de repente, um cruzamento pode dar certo, pode melhorar a forma, a aparência ou o desempenho. Tem-se, sempre, que analisar o aspecto ético, legal e moral da questão. Saber, também, que esse pássaro não poderá de forma alguma ser solto na natureza. Só poderá servir para uso doméstico, exclusivamente.
Porém, criação de canários domésticos o Serinus canária, utiliza essa prática ao extremo em todo o mundo. É a prática mais difundida entre os criadores. As respectivas exposições são centradas em avaliar e julgar os melhores espécimes mutados e aqueles que apresentam detalhes nas penas diferentes da cor natural. O que se quer é sair na frente e obterem-se exemplares os mais interessantes e os mais procurados possíveis. É esta a conjuntura desse segmento. É nessa linha que se desenvolve a criação há mais de 700 anos e que desperta interesse em milhões de pessoas em todo o planeta.
Será que para os criadores de pássaros canoros brasileiros haveria uma lógica diferente? O que estamos fazendo? Estamos, logicamente, seguindo a regra geral. Conseguir o melhor, o mais cantador, o que repete mais e o mais bonito de porte, talvez. O que nos interessa, sobretudo, é o canto. O bicudo e o curió, notadamente, são pássaros que apresentam muitas particularidades a este respeito.
São inúmeros dialetos em seu estado natural. Daí, já começa a complicação. Os estilos de cantos mais bonitos e valorizados são os mais requisitados para a reprodução. É preciso ter-se cuidado para se obter crias que estejam em condições de emitir excelente canto. Os machos de canto indesejável são afastados das fêmeas mães logo após a gala, quando utilizados. Isto porque a maioria dos filhotes aprende ainda no ninho o dialeto de canto do pai. O canto não é genético, é um processo de aprendizado. Já a propensão para aprender sim, depende das linhagens, algumas não tem esse viés. Aí é que está a habilidade do criador e a sua perspicácia em escolher as matrizes de sucesso comprovado.
Outra questão diz respeito às aves de fibra, há muitos criadouros atendendo a esta modalidade. Os de fibra, são aqueles que cantam destemidamente, são aqueles que são
capazes de vencer desafios de canto e que logram sucesso nos torneios de fibra que mede quem canta mais, independente da qualidade.
São pássaros maravilhosos, os mais mansos, os mais adaptados, os mais fáceis de serem treinados, os mais valentes, os que cantam mais depressa nos torneios. Não bastasse isso, vem a questão mais importante é a do pássaro repetidor - aquele que canta a frase musical por várias vezes sem interrupção - chegam a cantar até 3 minutos sem parar. São os mais valorizados, são esses os mais procurados. Não vale a pena a reprodução se não se conseguir pássaros repetidores. Não interessa a ninguém. Se o pássaro emitir um canto só ou dois, pode ser o que for para canto ou para fibra que serão logo descartados. O canto fica enjoativo e o pássaro não tem produção para concorrer com aqueles que repetem.
O que está se fazendo, então. O bom criador procura juntar os três predicados, o canto, a fibra e a repetição. Assim, provavelmente conseguirá pássaros de excelente qualidade e que poderão ser transacionados com muito mais facilidade. Isto é obtido com a utilização de campeões famosos na reprodução. É quase que uma obrigação dos passarinheiros colocar seu pássaro campeão para reproduzir. Ainda bem que isto está efetivamente acontecendo. Produzir filhotes de pássaros que não se sabe a origem é perda de tempo e de recursos, além da ilegalidade.
Muito bom. Essa é a realidade. É uma realidade benfazeja, essa evidência é que nos tem ajudado. São milhares os exemplos dessas ocorrências. Daí o nosso entusiasmo. Esses casos demonstram sobremaneira porque um crescente e quase total desinteresse por espécimes de origem silvestre. Essa prática possibilitará que num futuro, desde que necessário e sob a monitoração do poder público, se faça eventuais reintroduções em áreas protegidas.
Esse é o trabalho, ora, desenvolvido pelos criadores do Brasil. Essa é a contribuição que estamos tentando dar no sentido de tornar sistematizado o trabalho de conservação. Não podemos esquecer, entretanto, dos cuidados que se deve ter quando estamos buscando um necessário aprimoramento genético.

Aloísio Pacini Tostes – Bonfim Paulista - Ribeirão Preto SP

www.lagopas.com.br



Um comentário:

  1. boa tarde! gostaria de saber se a fêmea de coleiro gorgea ou so o macho quando filhote 25 a 40 dias de vida?

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